sexta-feira, janeiro 07, 2005
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Olá Amigas e Amigos, vou deixar-vos hoje um texto da autoria do meu amigo Luís Nascimento, que quando o publicou, gerou alguma polémica... Eu achei o texto explêndido! E como sei que o meu amigo vai ficar feliz por saber que coloquei o texto dele no "meu cantinho" aqui fica o mesmo, e espero que saibam "ler" nas entrelinhas!
Obrigada Luís, pelo texto, (já há muito tempo que está comigo, mas achei que estava no "timing certo para o publicar) e espero sempre que continues a escrever e a ser aquele bom amigo!
Beijinhos Docinhos para toda a gente da Vossa amiga Luísa!
SENSIBILIDADE E BOM GOSTO
CONVERSA (DES)AFIADA
Alta. Ou de tacões.
Magra. Ou disfarçada em dietas. Elegante.
Loira. Morena. Ou pintada.
Maquilhada. Ou sombreada.
Cabelo esticado. Frisado. Ou com madeixas.
Roupa justa. Desapertada. Ou a descoberto.
‘Piercing’. Tatuagem.
Cinto largo. A escorregar.
Unhas pintadas. A condizer.
Como é difícil ser mulher nos dias que correm.
Ter de ler as revistas do coração, saber as fofocas e mexericos da alta sociedade ou dos residentes na casa do ‘Big Brother’.
Ter de comparecer uma vez por semana – mínimo – no cabeleireiro. Ter de perder longas horas a pentear o cabelo e a limpar a cara com cremes, a desenhar os lábios com batom, a alongar as pestanas com rímel e a disfarçar as borbulhas com base.
Ter de passar horas infinitas com máscaras de beleza no rosto, pepino nos olhos e ovos no cabelo.
Ter de combinar a cor da saia com a dos sapatos e a destes com a carteira que fique melhor. Ter de rapar os pelos das pernas.
Ter de fazer equilibrismo em cima de sapatos ou sandálias de salto alto.
Ter de vigiar a alimentação, controlar celulite e submeter-se à ditadura da balança.
Ter de transportar autênticas malas de viagem onde existe tudo, como na farmácia.
Ter de vestir e calçar as marcas da moda.
Ter de frequentar o ginásio duas ou três vezes por semana.
Ter de apresentar um bronzeado extraordinário logo nos primeiros dias de Verão.
Ter de comprar ‘fatiota’ nova sempre que vão a um casamento, festa social ou passagem de ano.
Ter de sorrir quando necessário.
Enfim, o trabalhão que dá parecer bela, desejável e apetecível. Apetecível à vista.
Apetecível ao gosto. E a outras coisas mais.
Apetecível, a ele. Quem quer que ele seja. Porque não existe mulher que não goste de se sentir olhada e apreciada, de alto a baixo, por um qualquer representante do sexo oposto, como que desejando despertar com a sua aparência doce e delicada, apetecível e bela, algum sentimento escondido ou adormecido, mesmo no ser masculino mais previdente e recatado.
Mas apetecível também às amigas, numa lógica de concorrência desenfreada, disputando, com elas, a primazia dos olhares alheios.
No fundo, uma vida de ilusão, uma existência virtual, na qual muito do que importa é acessório, supérfluo e imposto por ditames alheios, sejam eles as amigas, as revistas da elite social ou as modas do momento.
Em qualquer caso, deixando que a vida passe inexoravelmente por si, perdendo tempo com miudezas e futilidades, mas esquecendo-se que um determinado estilo de vida não existe para sempre.
Esquecendo-se de parar.
E escutar o barulho das crianças da escola primária brincando no recreio. E observar um pássaro que se banha nas bordas de um chafariz, numa tarde de Verão.
E espreitar a lua cheia, redonda, que parece um recorte prateado colado num fundo de cartolina preta.
No fundo, o trabalhão que dá para se verem belas e apetecíveis parece retirar-lhes o discernimento necessário para que possam realmente viver, provocando-lhes, em consequência, um total alheamento da vida real, e induzindo-as numa lógica egocêntrica, como se a vida girasse obsessivamente à volta do seu umbigo.
Como se fossem aquilo que vêm ao espelho, ou que imaginam ser.
Como se o mundo material pudesse relegar para segundo plano a verdadeira essência feminina, ofuscando-a de tal forma que fosse plausível admirá-la, como mulher, na proporção do preço da roupa que veste, ou da quantidade de base que gasta habitualmente num sábado à noite.
Um anúncio televisivo diz que “À noite as pessoas são mais autênticas”.
Provavelmente por efeito do álcool da bebida publicitada.
Eu penso o contrário.
No caso das mulheres talvez o sejam de manhã.
Com olheiras e rugas.
Despenteadas e desmaquilhadas.
Cansadas duma noite mal dormida.
Nesse preciso instante em que a relação que mantêm com o seu corpo é mais complexa, porque mais real e verdadeira.
No fundo, trata-se da mesma pessoa só que com menos tinta.
Mas, afinal, eu até gosto de mulheres pintadas e bronzeadas. Carinha laroca. Cabelo bem cuidado. Lábios desenhados e pestanas espaçadas. Tronco elegante. Cintura justa. Pernas alongadas pela aeróbica ou fitness. Tatuagem ao fundo das costas, ou noutro local menos visível. Enfim, nas medidas. Ou, como dizia o meu avô, ‘na estica’.
Ou, ainda, nos dizeres dum amigo de meu pai, ‘com muito andamento’. Todas iguais e bem parecidas. Como que saídas duma linha de produção.
Afinal, dizia, também me deixo iludir pela aparência doce e apetecível das mulheres.
Mas não me preocupo com isso.
Só agradeço sejam dotadas de alguma sensibilidade e bom gosto.
Tenham formação que lhes permita estar em ‘casa’ onde quer que se encontrem.
Consigam pronunciar duas ou três frases completas e com sentido. Enfim, não me preocupa a futilidade das mulheres.
Aborrece-me é que venha desacompanhada ao ponto de se lhes não poder exigir que sejam inteligentes quando se dá o caso de já terem corpo de capa de revista.
Pedir demais?
Talvez. Mas, caso contrário, como disse, são todas iguais. E, então, há muito por onde escolher.
(Luís Nascimento)
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